"Por mares nunca dantes navegados..."
sexta-feira, maio 07, 2004
 
As outras dimensões de Lisboa! Uma Estória!
(Sempre quis usar a palavra estória!YES!E hoje apetece-me relatar uma estória!! )
(O post é longo, mas quem quiser mesmo ler lê até ao fim e isso é que interessa!!)

Tenho pena de não ter a capaciade de outros escritores, como o nosso Eça de Queirós, para descrever o que vos gostaria de descrever, mas esforçar-me-ei!

Hoje entrei numa nova dimensão... Não sou pioneiro na família, já por outra vez o meu querido Pai viu-se entrado na Twilight Zone!Passou-se aqui há um par de anos. Teve de ir a uma repartição burocrática qualquer e qual o espanto dele quando começou a ouvir o barulho de várias máquinas de escrever "a dar a dar"! Diz que logo aí se sentiu em 1950. De um lado da porta o nosso mundo da Internet, dos computadores, dos Blogs, do outro lado o velhinho mundo das máquinas de escrever, do corrector, dos arquivadores gigantes! Lá resolveu continuar o seu caminho qual comandante na proa da sua Nau Catrineta! Passados uns segundos deparou-se com dois guichets com uma porta (aberta) entre eles, não existiam mais "clientes". No guichet da direita lá estava o primeiro "habitante" deste mundo pararelo, que lhe perguntou prontamente ao que vinha. Depois de explicado e, talvez, percebido que o nosso povo (pelo menos aquele senhor) era pacífico, o simpático "E.T." explicou que o meu Pai teria de passar a porta à sua esquerda de forma a ser atendido no segundo guichet, e assim o fez. Qual não foi o espanto quando no outro guichet (apenas uns centímetros ao lado) lhe apareceu o mesmo simpático empregado: "Agora sim, vou poder atênde-lo"! O corajoso pioneiro quase que exclamou um fantástico "UAU!", mas teve o cuidado de o guardar para si, não fosse o povo da fantástica dimensão achar que era um grito de Guerra!! Vocês reparem: não havia mais ninguém para ser atendido mas a mente metódica daquele individuo dizia-lhe, ordenava-lhe que as regras dos guichets deveriam ser devidamente cumpridas! (E não, os guichets não eram pre-destinados a nenhuma tarefa especial, eram iguais!). Bem, continuando, o meu Pai ainda com o barulho dos "tilts" das máquinas a soar na cabeça teve a ousadia de olhar para a sala de onde lhe parecia vir o barulho. E lá estavam cerca de cinco senhoras a bater alguns textos! E, maravilhem-se, ao canto um computador ligado completamente abandonado, como se fosse uma oferenda do povo do outro lado da porta, guardado religiosamente!! Depois dos assuntos tratados o nosso aventureiro saiu maravilhado e com vontade de contar ao mundo o que aprendera!!

E, seguindo os passos do meu Pai, qual Indiana Jones, (e é por isso que me lembrei de escrever) hoje foi a minha vez de me aventurar! Mal entrei na Clínica de Oftalmologia uma senhora já com os seus 60 anos com umas pernas inchadas pergunta: "É a primeira vez aqui, certo?", de facto não lhe deve escapar a cara de um Visitante! Lá dei os meus dados para a minha ficha de cliente, preenchida à mão porque mais uma vez não existiam computadores numa área de alguns metros (bastantes, por sinal!). Mas o que me fascinou foi a pergunta: "Que idade tem?" (escrita depois a vermelho na ficha) ao invés de: "Qual a sua data de nascimento?". Será que este novo povo pensa que a idade é como o nosso sexo, que é algo que não muda?(normalmente, claro!) Será que se aquela for a minha clínica nos próximos anos conservarei os 19 anos nos meus dados? É fantástico! Foi com estas perguntas que fui conduzido para a sala de espera pela senhora da entrada (parecia ser a única, para além dos médicos, por aqueles lados). Para engradecer ainda mais a minha visita a senhora mancava, o que lhe confere um estatuto de personagem de banda desenhada, que poderá ser alvo de uma caricatura! (lembrou-me a Madame Souza de Belleville Rendez Vous, para quem viu!). Sentei-me, então, na dita sala e ao meu lado estava um armário, muito trabalhado, envidraçado com pano rosa de veludo a tapar os vidros, que me transportou para uma agência funerária e me fez nascer uma curiosidade, o que estaria lá dentro? Com este "bichinho" a remoer por dentro olhei para a janela, não era uma janela normal, era uma janela que me garantiu que poderia voltar à minha dimensão, era uma janela de onde podia ver a movimentada Av. da República, era bom sabê-lo!!! Depos de ouvido o meu nome lá me dirigi ao gabinete do médico. Era escuro e triste. Tinha uma cadeira que condizia com o armário da sala de espera que também ajudava a essa tristeza inata àquela sala. Depois dos testes feitos saí e paguei. Mas uma frase alimentava a minha sede de aventura: "Marque outra consulta, numa das próximas semanas que preciso de vê-lo novamente!". E voltei a esta dimensão.

Abraços!!
Beijinhos!!
Saudações!!



Powered by Blogger